quinta-feira, 4 de março de 2010

O melhor conselho que recebi

Encontrei no site da Revista Época

21 personalidades brasileiras de sucesso revelam as ideias que nortearam sua vida
Kátia Mello. Com Martha Mendonça, Solange Azevedo, Lívia Deodato, Mariana Shirai, Fernanda Colavitti, Francine Lima, Mariana Sanches, Paulo Moreira Leite e Luís Antônio Giron

Uma das primeiras fontes de conselhos de que há registro foram os oráculos da Grécia Antiga. A eles recorriam reis e generais antes de tomar decisões de vida ou de morte. O mais famoso de todos os oráculos era o de Delfos. Ao pé do Monte Parnaso, era considerado pelos gregos o centro do Universo. Lá, as sacerdotisas de Apolo revelavam suas profecias. Ao perguntar se deveria atacar os persas, o rei Creso, de Lídia, recebeu o seguinte conselho: “Se você o fizer, destruirá um grande império”. Creso lançou-se à batalha sem entender que o império derrotado seria o dele. Não basta, portanto, receber um bom conselho. É preciso interpretá-lo de forma correta.

Nas próximas páginas, ÉPOCA revela o melhor conselho que 21 brasileiros de sucesso afirmam ter recebido na vida. Eles também contam de quem receberam o conselho e em que situações ele foi útil. Os presidenciáveis José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva revelam o norte de sua vida e de sua paixão pela política; a atriz Juliana Paes traz na memória um dito do pai; o escritor Paulo Coelho fala sobre a magia ensinada por seu mestre no início da carreira; a modelo Gisele Bündchen conta a lição de vida que recebeu de um médico. Muitos dos conselhos a seguir são universais – e os personagens desta reportagem decidiram compartilhá-los com você.

Pare e respire

"Um profissional naturopata (que trabalha com medicina natural) me disse: ‘Pare e respire’. Ele me mostrou a importância que essa atitude tinha. Isso foi há cinco anos. Desde então, aprendi quão valioso é parar e estar consciente sobre minha respiração. Quando estamos muito ansiosos, não conseguimos nos centrar. Ao nos concentrarmos na respiração, vivemos muito mais o momento e temos mais consciência de nossas atitudes e de nosso corpo. Com certeza, a respiração correta ajuda a nos manter em equilíbrio. Hoje em dia, uso essa prática e sinto a diferença. Controlo mais a ansiedade, minhas emoções e aproveito muito mais cada momento da minha vida."

Gisele Bündchen, 29 anos, gaúcha, top model


Cumpra metas traçadas com disciplina e constância

"Minha mãe, Jutta Batista, me fez entender que ter disciplina faz uma enorme diferença na vida. Eu tinha por volta de 13 anos quando ela conversou comigo sobre o assunto. Acordar cedo, cumprir as tarefas, os horários, ser sempre pontual nos compromissos. No fundo, tudo é disciplina, e ela me ajudou em todos os aspectos. Eu sofria de asma quando criança. Minha mãe sabia que uma das maneiras de me curar era nadando. Então, ela me incentivou na natação, me fez ter disciplina e dedicação. Segui o conselho e me curei da asma. O que ela me ensinou também foi absolutamente vital para meu trabalho, como empreendedor e criador de novos negócios. Cumprir as metas traçadas, com disciplina e constância, e executar os projetos até o fim. Cumprir todas as regras, sem pular etapas. Graças a esse conselho, também continuo a fazer exercício pelo menos duas vezes por semana. Tenho 52 anos e uma saúde de ferro."

Eike Batista, 52 anos, carioca, empresário


Nada acontece sem esforço

"O melhor conselho que recebi veio do meu pai. Eu sempre uso a frase que ele me dizia: ‘Peça a Nossa Senhora e não saia correndo atrás, para ver o que acontece’. Não acontece nada se a gente não se esforçar, se não trabalhar, não tiver um planejamento. Ou seja, só ficar na expectativa e não mergulhar, não encarar, não enfrentar os problemas. Minha primeira atitude é sempre correr atrás, não fugir do problema, ir atrás dele para resolvê-lo. Eu sempre procuro entender as questões com profundidade e ver quais são as soluções. Procuro adotar uma estratégia para resolver, ver todas as formas e os ângulos de determinado problema para depois pedir a Nossa Senhora e sair correndo atrás. Outra frase que meu pai dizia é: ‘Nunca chame o lobo para se defender do cão’. Se você não é suficientemente apto para lidar com um problema, não se meta nele. Não pense que, ao chamar alguém mais esperto do que você, ele vai te ajudar. Pode até atrapalhar."

Roger Agnelli, 50 anos, paulista, empresário


O estudo traz uma releitura da vida

"Dos 5 aos 14 anos, morei com minha avó Julia, em Mecejana, no Ceará. Eu morava numa casinha de palha, a 10 quilômetros da casa do meu pai. Ficava numa capoeira. Minha avó era uma pessoa muito inteligente, capaz de decorar um livro inteiro de cordel apenas de ouvir a história umas duas vezes. Como ela não sabia ler, meu pai lia para ela, e ela me contava as histórias. Ou as cantava em forma de cantoria, como os repentistas. Foi com ela que aprendi os rudimentos do cristianismo. Ela tinha um catecismo feito de papel-cuchê, com umas ilustrações belíssimas da Capela Sistina, que mostrava desde a Criação até o Apocalipse, o fim do mundo. O livro não tinha escrita, só ilustração. Era feito para analfabetos. Minha avó dizia que no Ceará havia padres, freiras e tudo isso. No meu imaginário de criança, ao ouvir tudo isso, eu comecei a dizer que, quando eu crescesse, seria freira. Todas as vezes que eu dizia isso, ela me aconselhava a estudar. Dizia que freira não podia ser analfabeta. E cresci com esse conselho. Quando fiquei doente, resolvi cuidar da minha saúde e ser freira. Fui para um convento, onde fiquei dois anos e oito meses. Foi assim que comecei a estudar. Para ser freira, eu tinha de aprender a ler. Eu tinha 16 anos e meio quando fui para Rio Branco para ser freira. E continuo tentando me curar do analfabetismo até hoje. Analfabeto é também quem não consegue fazer uma leitura em relação aos tempos que está vivendo, quem não consegue ler os valores que se quer reforçar ou outros que a gente precisa mudar. Enfim, a alfabetização é um processo contínuo; é dar outra significação à vida."

Marina Silva, 51 anos, acreana, senadora



Pense em como ajudar as crianças

"Eu era viúva havia cinco anos e estava tomando lanche com meus cinco filhos à noite, quando o telefone tocou. Era maio de 1982. No telefone, estava o meu irmão dom Paulo Evaristo Arns, na época o cardeal de São Paulo. Ele me contou que vinha de uma reunião da ONU. Eles pediram a dom Paulo que pensasse sobre como a Igreja poderia ajudar a expandir o uso do soro oral para as mães, com o intuito de evitar a desidratação, causada pela diarreia. E ele me aconselhou a pensar em como fazer isso. Foi, para mim, um momento de muita emoção. Na ocasião, eu era diretora da Saúde Materna Infantil do Estado do Paraná e o partido político no governo havia mudado. Apesar de eu não pertencer a nenhum partido político, eles me tiraram da direção da Secretaria da Saúde. Eu me sentia subutilizada quando dom Paulo me telefonou, parecia que Deus estava me abrindo uma grande porta: ensinar as mães a cuidar melhor de seus filhos. Depois que meus filhos foram dormir naquela noite, eu planejei a Pastoral da Criança inteira. Eu queria salvar vidas."

Zilda Arns, 75 anos, médica, sanitarista


Cuide mais das qualidades

"Certa vez, eu estava conversando com o Robert Gallo, que descobriu o vírus da aids, e ele disse: ‘Você é um rapaz criativo. E nós, pessoas criativas, temos de tomar mais cuidado com nossas qualidades que com nossos defeitos’. Porque os defeitos você sabe quais são e pode se defender deles, mas, das qualidades, não. Os criativos criam tantas coisas que depois não conseguem levar adiante o que criam, e isso pode ser uma arma contra a própria pessoa. O Gallo me disse isso na casa dele, num almoço, em 1995. Ele me conhece, sabe sobre meu trabalho aqui no Brasil, e a gente vivia trocando ideias. Ele falou por experiência própria, porque, esse tipo de conselho, nunca ouvi em lugar nenhum. Ele é muito entusiasmado com suas ideias e toma esse conselho para si mesmo. Eu também tenho essa tendência de pensar coisas diferentes, de ser empreendedor, de pensar assim: ‘Vamos fazer’. Ao mesmo tempo, reflito: ‘Será que tenho condição de levar até o fim?’. Se você é preguiçoso, toma precauções contra a preguiça. É mais fácil. Agora, se você é generoso, essa generosidade pode te destruir também. Hoje, sou muito cuidadoso e, quando surge algo novo, penso no tempo que aquilo me tomará e de onde eu vou tirar tempo para aquilo. Porque pode chegar uma hora em que não haja tempo para mais nada. Então é preciso decidir, pensar bem."

Drauzio Varella, 66 anos, médico


Divulgação
Na vida, às vezes o ótimo é inimigo do bom

"Quando eu era presidente da UNE, em 1963, conheci o Juscelino e visitei-o algumas vezes. Ele pretendia se candidatar a presidente em 1965 e, numa das conversas, puxou o assunto. Eu disse, e estava certo, que a UNE e o movimento estudantil não tinham maior importância eleitoral (apesar de que, na época, eram muitíssimo mais fortes do que hoje), nem se engajavam em eleições, mas que, se isso fosse acontecer, nosso candidato seria o Miguel Arraes, então governador de Pernambuco. Ele comentou, muito amavelmente, sorrindo: ‘Na vida, às vezes, o ótimo é inimigo do bom. O Arraes é ótimo, eu sou bom. Cuidado que podemos ficar sem os dois. Ficar com o ruim’. Aludia a Lacerda, a quem combatíamos diariamente. Se fosse mais pessimista, poderia ter aludido ao golpe e à ditadura que o cassou (e me condenou e exilou). Não foi bem um conselho, foi uma reflexão, que assimilei na hora, até porque correspondia à minha forma de analisar e fazer política."

José Serra, 67 anos, paulistano, governador do Estado de São Paulo


A magia está nas coisas simples da vida

"J., meu mestre e amigo, no início do ano de 1986 me disse para fazer o caminho de Santiago de Compostela. Até aquele momento, eu achava que o mundo do oculto era cheio de mistérios, merecia uma vida inteira de dedicação e um considerável afastamento da realidade. Quando comecei a peregrinação, acreditava que estava prestes a realizar um dos maiores sonhos da minha juventude. Meu guia, Petrus (nome fictício), era para mim o bruxo D. Juan, e eu revivia a saga de Castañeda em busca do extraordinário. Petrus, entretanto, resistiu bravamente a todas as minhas tentativas de transformá-lo em herói. Isso tornou muito difícil nosso relacionamento, até que entendi que o extraordinário reside no caminho das pessoas comuns. O mágico reside nas coisas simples da vida – é apenas uma questão de estar aqui e agora, conectado com tudo o que nos rodeia. Hoje em dia, essa compreensão é o que possuo de mais precioso, me permite fazer qualquer coisa, e vai me acompanhar para sempre."

Paulo Coelho, 62 anos, carioca, escritor


Seja política

"Quando minha mãe, Cláudia, entrou no meu quarto numa manhã sugerindo que eu me candidatasse a vereadora, dei risada. Nove anos depois de sofrer o acidente de carro que me deixou tetraplégica, dedicava quase todo o meu tempo à ONG Próximo Passo, que criei para promover pesquisas para a cura de paralisias. E eu odiava política. Era daquele tipo de leitor que pulava a seção de política do jornal. Minha mãe passou quase um ano repetindo aquele que, descobri tempos depois, foi o conselho mais importante da minha vida. Acabei me filiando ao PSDB apenas para agradá-la e ver se ela se esquecia do assunto. Ao contrário, ela passou a insistir mais. Comecei a campanha só 40 dias antes da eleição. Todo o material que eu tinha eram uns santinhos impressos por ela. Eu mesma distribuía nas calçadas de São Paulo, com alguém me empurrando na cadeira de rodas. Acabei tendo votos o bastante para ser a terceira suplente do partido. Dois anos depois, ocupei uma cadeira na Câmara. E percebi que poderia ampliar o meu trabalho com a política. Hoje, já sou autora de três leis para melhorar o acesso aos 3 milhões de deficientes que vivem em São Paulo. Em 2008, me candidatei a vereadora outra vez. Fui a mulher que conquistou o maior número de votos, 79.912, em disputa para a Câmara dos Vereadores do Brasil. Tudo por causa da insistência da minha mãe."

Mara Cristina Gabrilli, 41 anos, psicóloga, publicitária e vereadora paulistana

Sucesso ou fracasso não são para sempre

"Em 1998, eu fazia um espetáculo chamado Um tal de Dom Quixote, com a Companhia Bando de Teatro Olodum. Meu papel era o de Sancho Pança. Quando a crítica do espetáculo saiu na imprensa, me fazia enormes elogios. Disse que eu havia roubado a cena. O título era: ‘Um tal de Sancho Pança’. Fiquei exultante e fui mostrar a crítica à minha diretora, Cica Carelli. Ela me disse: ‘Mas por que você está comemorando tanto? Saiba que não existem nem sucesso nem fracasso permanentes’. Na hora, fiquei chateado por ela ter cortado a minha onda. De lá para cá, vi que é exatamente assim. Devemos ser comedidos nas alegrias e nas tristezas da profissão. O conselho que ela me deu, na verdade, formou parte de minha personalidade, pauta quem sou hoje. Depois de fazer televisão e de ficar mais popular, com novelas de grande sucesso, sempre penso nisso e comento sobre o que faço com o máximo de normalidade. Eu me tornei realmente consciente da possibilidade desses altos e baixos. Isso me ajuda muito a ter equilíbrio no trabalho e na vida."

Lázaro Ramos, 30 anos, baiano, ator



Somos todos seres iguais

"Certa vez, eu estava melindrada por ter de conversar com o reitor da universidade onde estudava. Eu tinha 19 anos, e meu pai me disse: ‘Nunca tenha medo ou timidez ao falar com quem quer que seja. Lembre-se sempre de que somos todos homens mortais, iguais, acima de qualquer cargo, profissão e status. Mesmo se estiver diante da maior autoridade que você reconheça, encare-a de igual para igual. Nem de cabeça baixa, pois não deve ter vergonha, nem de nariz em pé, pois tem de manter a humildade. Encare-a de frente, como iguais que são’. Essas palavras me acompanham sempre, são como um eco do meu pai em mim. Sempre fui muito respeitosa, quase tímida quando mais menina, e sempre tive medo de dizer não, de desagradar. Uma terapeuta me disse uma vez que eu sou uma pessoa que gosta de agradar. É verdade. Mas o conselho do meu pai me ajuda até hoje a não ter medo de me colocar, de questionar. Ele me fez ser mais forte e confiante."

Juliana Paes, 30 anos, fluminense, atriz


Só você pode se derrotar

"Na época da ditadura, eu estava presa no Dops, em São Paulo. Como as celas estavam lotadas de presos políticos e havia menos mulheres do que homens, botavam a gente nas solitárias. Então, fui parar em uma solitária. Estávamos eu e uma jovem de 21 anos chamada Leslie Denise, a Lelé. Um dia bateram na nossa porta com uma caneca. Pela janelinha, vimos um velhinho de olhos azuis. Com bandagens nos pulsos, ele disse assim: ‘Oi, meu nome é Jacob Gorender. Como é que vocês se chamam?’. Entre os presos havia dois estrangeiros do Al Fatah (facção palestina). Um deles nos contou que o velhinho era o doutor Jacob Gorender. Fizeram barbaridades com ele e passamos a cuidar dele. Lavávamos sua roupa, amassávamos abacate, botávamos açúcar, limãozinho. Ficamos amicíssimas dele. A gente o achava velho, mas ele tinha 47 anos. Um dia, ele me deu um conselho: ‘Só tem uma coisa que você não pode fazer’, disse para mim e para Lelé. ‘Vocês não podem achar antecipadamente que eles (do Dops) sabem tudo, porque, se você achar que eles sabem tudo, que entendem tudo e são tão poderosos, vocês já se derrotaram’. Então, na vida, você não pode achar nunca que as pessoas sabem tudo ou são tudo. Se você não for capaz de entender o que a outra pessoa quer de ti, como é que ela te atinge, se você não for capaz de fazer isso, você já perdeu. E a frase dele era a seguinte: ‘Cuidado. Só você pode se derrotar’."

Dilma Rousseff, 61 anos, mineira, ministra-chefe da Casa Civil


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A vida é o trabalho do artista

"Minha carreira como artista plástico estava prestes a acabar em 1994. Logo após a dura recessão dos anos 90, a decisão de me reinventar como fotógrafo parecia não me levar a lugar nenhum. Embora trabalhasse intensamente, estava sem galeria em Nova York, e o que ganhava mal dava para sobreviver. Além disso, torturava-me imaginar como sustentar e educar meu filho, na época com 4 anos. Eu era também professor de fotografia e desenho na New School for Social Research, em Nova York. Lembro-me claramente do dia em que comentei com a amiga e curadora americana Tricia Collins que eu estava pensando em dar mais aulas e encarar uma carreira como educador e abandonar esse sonho de viver de arte. Tricia me disse que a pior coisa a fazer é deixar de ser o que somos para ser algo para nossos filhos. Que o meu filho seria mais orgulhoso de mim como artista do que como o infeliz que deixou de ser o que queria ser por sua causa. Ela também me ofereceu um projeto na pequena sala alternativa que dirigia no Soho. Eu disse a Tricia que trabalharia como um louco para seu projeto. Aí ela me deu um conselho: ‘A vida é o trabalho do artista. Saia de férias!’. Segui seu conselho à risca e embarquei para o Caribe, onde conheci as crianças da série de fotografias que me consagraram. As fotos também fizeram parte da minha primeira retrospectiva, em Nova York, estabelecendo definitivamente minha identidade pública como artista plástico e fotógrafo. Meu filho, hoje com 19 anos, é o meu maior fã e amigo."

Vik Muniz, 47 anos, paulistano, artista plástico


Celebre sua comunhão com o mundo

"Entrei em crise aos 20 anos. Eu havia sofrido muitas perdas e acreditava que precisava de psicanálise para resolver minhas questões. Para mim, era hora de olhar para dentro. Fui atrás de terapia e consegui uma entrevista com o famoso Hélio Pellegrino, psicanalista e intelectual brilhante. No dia marcado, fui feliz da vida a seu consultório, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Por uma hora, desfilei todos os problemas que tinha e outros que achava que tinha. A conversa foi ótima, e eu, ainda estudante, acabei contando para ele sobre minha paixão pela física e pela natureza. No fim, me surpreendi com o que ele me disse: ‘Marcelo, acho que você não precisa de análise. Para mim, a análise é a pró-cura. E você, através de sua procura, vai se autocurar. E você está já no seu caminho de busca. Continue nutrindo essa paixão, buscando e celebrando sua comunhão com o mundo, que estará sempre bem’. Eu nem cheguei a me deitar no divã. Passados 30 anos, eu posso dizer que encontrei meus caminhos e que ele tinha toda a razão."

Marcelo Gleiser, 50 anos, carioca, astrofísico, professor, escritor e roteirista

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Mostre suas glórias com simplicidade e humildade

"Estava à beira-mar, numa praia de Varberg, na Suécia, aguardando o início de uma regata. Era final de manhã e ventava muito. Eu tinha 20 anos e acabara de participar da minha primeira Olimpíada (Los Angeles, em 1984). O dinamarquês Paul Elvström, o velejador mais importante de todos os tempos, tinha então 57 anos. Sua simplicidade – apesar das quatro medalhas de ouro olímpicas e dos 13 títulos mundiais – chamou minha atenção e eu resolvi lhe fazer um elogio. Paul respondeu que o mais importante na vida de um campeão não deve ser ostentar seus grandes resultados. E que as glórias de um vencedor podem ser mostradas com simplicidade e humildade. Hoje, Paul está com mais de 80 anos e ainda mantemos contato. Provavelmente, ele não sabe quanto esse conselho foi importante na minha vida. E procuro passá-lo adiante. Faço palestras por todo o Brasil e, quando alguém me trata como celebridade, tento mostrar que estamos no mesmo patamar e que a simplicidade é um valor fundamental na vida de qualquer ser humano. Isso não deve se aplicar apenas aos campeões no esporte. Mas também àquelas pessoas que se destacam, seja na política, na economia ou em qualquer outra área."

Lars Grael, 45 anos, velejador, campeão olímpico


Deixe de lado a opinião dos outros

"Desde que decidi ser piloto, recebi orientações bastante úteis. Meu pai logo me alertou que eu precisaria abrir mão de muita coisa se quisesse realmente chegar aonde pretendia. Na minha adolescência e juventude, cansei de abrir mão de festas e baladas. Mas acredito que o melhor conselho partiu do piloto Michael Schumacher. Eu já o conhecia bem desde 2003, ano em que passei como piloto de testes da Ferrari. Em 2006, fui seu companheiro de equipe na sua despedida da Fórmula 1. Eu correria ao lado simplesmente do cara que virou uma lenda e quebrou praticamente todos os recordes da categoria. Foi quando ele disse para jamais me preocupar com o que as pessoas, e principalmente a imprensa, falassem a meu respeito: ‘Eles vão falar bem um dia e falarão mal depois, mas você não deve dar importância. O que vale mesmo é se concentrar em fazer o seu trabalho da melhor forma possível, deixando de lado a opinião dos outros’. Foi o que passei a fazer a partir de então. Essa postura me deixou mais forte mentalmente e me ajudou a superar os momentos difíceis na F-1."

Felipe Massa, 28 anos, paulistano, piloto de F-1


O tempo atenua a dor

"Eu tinha uns 11 anos quando uma amiga muito próxima perdeu a mãe. Foi triste demais. Ela estava muito triste, e eu não sabia o que escrever para atenuar sua dor. Chamei meu pai, e ele mandou que eu escrevesse que, para aquela dor, não havia remédio e que o tempo traria um conforto da saudade. Tomei isso para minha vida. Daquilo que não pode ser resolvido, imediatamente o tempo dará conta."

Ivete Sangalo, 37 anos, baiana, cantora


Decisões, só de cabeça fria

"Um dos melhores conselhos que já recebi foi de um grande amigo, Paulo Borges. Ele me disse para nunca decidir nada no calor das emoções. Sempre diga: ‘Vou pensar e respondo amanhã’. Junto com esse conselho, que lembro sempre, ele me apresentou sua advogada, que passou a advogar para mim também, isso 12 anos atrás. Ela reforçou o conselho dado por Paulo e acrescentou: ‘Nunca assine nada sem eu ler’. Sigo os dois conselhos e sou muito feliz."

Alexandre Herchcovitch, 38 anos, paulista, estilista


Invista no seu potencial

"Minha professora de violoncelo, Nydia Otero, me disse para estudar na Europa. Muitos foram contra minha saída do país aos 16 anos. Eu nem tinha terminado a escola. Ela foi firme em me convencer a ir para a Alemanha, estudar com o italiano Antonio Janigro. Na época, eu era músico profissional de orquestra. Ela achava que, se eu ficasse no Brasil, entraria numa rotina brasileira e não chegaria ao máximo do meu potencial. Segui seu conselho. Meu pai me apoiou porque via essa possibilidade como a melhor. Minha mãe foi contra. Era o receio típico de mãe, de ver o primogênito ir embora, sem saber falar alemão, inglês. Eu não tinha bolsa de estudos. Por dois anos, trabalhei na Orquestra Sinfônica Brasileira. Todo o dinheirinho que ganhava, poupava. Foi com isso que vivi durante os primeiros meses fora. Depois, tive de me virar. Meu pai mandava o que podia, mas era pouco. Toquei em enterros, casamentos, onde era necessário um violoncelista, eu tocava. A vida era cara, mas nem por um segundo eu me arrependi. O único momento em que fiquei receoso foi quando o avião começou a subir. Olhei para baixo e comecei a chorar. Estava indo embora e não voltaria tão cedo. Se tivesse ficado, minha vida teria sido outra."

Antonio Meneses, 52 anos, recifense, músico e compositor